Como é óbvio, a utilização do vídeo em sala de aula não é nenhuma novidade de última hora, já se faz há muitas décadas. As grandes diferenças podem estar relacionadas com: a quantidade e a facilidade no acesso; a velocidade para a obtenção do vídeo; a diversidade dos temas abordados nos vídeos; a qualidade do vídeo e possibilidade de interatividade com os filmes.
São razões mais do que suficientes para perceber que existem grandes disparidades na comparação da atualidade com tempos mais longínquos.
O vídeo pode ser uma ferramenta didática muito interessante tanto na dinâmica de uma aula, como na construção do conhecimento. Pode ser muito atrativo para os alunos, ser manuseado facilmente para se atingir objetivos específicos, proporcionando a conjugação da visão e da audição, podendo tocar os sentidos e os sentimentos mais facilmente e envolvendo os alunos de uma forma mais intensa (Janete Borges Silva).
Nesta abordagem que trago sobre a utilização do vídeo em sala de aula, posso começar por dizer que esta não é a solução milagrosa que resolve todos os problemas de concentração, atenção ou interesse. Mesmo sendo aplicada em alunos que pertencem à geração que “consome” mais horas de vídeo.
Numa abordagem simplista, seria fácil dizer-se que o vídeo é, por si só, motivador do envolvimento dos alunos. Mas, no terreno, sabemos que não é bem assim.
O vídeo…
Para a maioria de nós (os mais maduros), o vídeo, em termo de horas de visualização, está associado à televisão. Também ao cinema, mas maioritariamente à TV.
No caso dos nativos digitais, o vídeo está muito mais associado à Internet, principalmente ao Youtube. A interatividade e a liberdade de escolha em nada se assemelham ao formato com o qual crescemos.
A televisão também está diferente, porque, para além de podermos escolher os programas, filmes, documentários que gostamos, podemos interagir com o decurso de uma história e até emergir num filme através da realidade virtual.
Para além destas diferenças no formato, os jovens têm uma associação, quase umbilical, do vídeo com o lazer, diversão, o descanso, quase nunca com escola, ou trabalho.
Ora, já se está a ver que a predisposição para assistirem a um vídeo em sala de aula, nem sempre é a melhor. Nem sequer têm headphones e não podem estar a trocar mensagens em simultâneo, nem tão pouco a comentar, ou discutir, nos comentários! Bahh!
Por estes motivos, quando pensamos em introduzir o vídeo em contexto curricular, devemos fazê-lo de forma muito bem pensada, para que não seja um esforço inglório.
Como não deves utilizar o vídeo em sala de aula!!!
Para começar, no meu ponto de vista, há algumas formas inadequadas de utilização que devemos evitar ao máximo:
Vídeo para “encher chouriços”
Apesar de poder ser uma prática quando o professor já terminou o programa, num final de período quando a auto-avaliação já está feita, ou até mesmo num dia em que, por indisposição, nos esteja a ser difícil orientar uma aula, deve ser eventual e nunca recorrente, porque se a frequência for grande há um grande risco de desvalorização do vídeo e ficará associado a “não ter aula”.
Vídeo “disfarçado”
A exibição de filmes descontextualizados, cujo conteúdo não está relacionado com a disciplina, pode ser um alívio para os alunos num determinado momento mas, se for recorrente, pode induzir uma “camuflagem” da aula. Existem casos frequentes como a colaboração nos projetos de Educação para a Saúde ou Sexual, ou outro, onde o visionamento de um filme pode ser uma boa opção, devidamente contextualizada.
Maratona de Vídeos
Por vezes, o vídeo gera bons resultados com algumas turmas. Finalmente se conseguiu a concentração e atenção de um grupo de jovens! O professor fica entusiasmado e aposta forte nesta estratégia. E começa a maratona! Atenção! Como em qualquer caso, o excesso pode ser imprudente. A combinação de estratégias e dinâmicas de aula é, e sempre foi, a melhor alternativa para se conseguir criar bons ritmos de aprendizagem. Naturalmente que o uso exagerado do vídeo (computador, internet, projetos, desafios, aulas expositivas, etc…) diminui a sua eficácia e pode ter efeitos contraproducentes.
O Vídeo perfeito
Sim, também nesta área existem os perfeccionistas. Certamente já se cruzaram com o professor “crítico” fanático da qualidade dos filmes, tanto ao nível das informações de conteúdo como da estética.
Em vez de procurar a perfeição pode ser mais interessante analisar e discutir com os supostos erros, naturalmente com adaptações em relação à idade dos respetivos alunos.
Vídeo solitários
Esta categoria pode casar com as duas primeiras. O professor lembrou-se de passar um vídeo. Nessa aula e nas próximas a abordagem é apenas “Vamos ver este filme”. Este caso deve ser o mais raro, creio. Por isso é importante evitá-lo ao máximo.
Os Vídeos da Avozinha
Estive quase a não incluir esta categoria, mas não resisti. É o exemplo claro de quem continua a utilizar os exemplos de vídeo dos anos 80 e 90 para abordar questões atuais. Não me refiro a longas metragens, que até podem ser muito úteis em determinados contextos. Insistir em vídeos sobre educação sexual, alimentação, adições e vícios, comunicação, etc.. do outro século parece-me um erro crasso, por muito bons que sejam em termos de conteúdo.
Algumas propostas para utilizar o vídeo em sala de aula
Partindo do pressuposto que o vídeo não é utilizado das formas anteriores, então poderemos tentar criar momentos de aprendizagem se o plano de utilização for bem preparado.
Deixo-vos aqui algumas propostas/formas de utilização do vídeo em sala de aula.
Ilustração
Esta é, talvez, uma das formas mais utilizadas, o vídeo utilizado como ajuda para ilustrar o tema que está a ser trabalhado em aula, tentando (re)criar cenários (reais ou virtuais) que os alunos não conhecem.
É uma ferramenta poderosa para fazer viagens no espaço e no tempo. Pode ser uma forma de complementar e fornecer informação importante para a compreensão dos conteúdos. Dependendo do nível de ensino e dos temas, normalmente são utilizados pequenos filmes ou trechos de filmes.
Sensibilização
Uma boa forma de utilização pode ser através da escolha de um Bom Vídeo para despertar curiosidade, introduzir um novo tema ou motivar para temas difíceis.
Para aplicar esta metodologia é importante o trabalho de pesquisa do professor para que consiga o “tal vídeo”. A internet facilita esta tarefa, uma vez que as plataformas de alojamento de filmes disponibilizam milhões de hipóteses. Com uma boa seleção de palavras chave pode ser possível encontrar um vídeo que pode fazer toda a diferença.
Nestes casos, os vídeos são normalmente curtos mas muito intensos no conteúdo. Podem não ser diretos e permitir o aguçar da curiosidade e, em alguns casos, suscitar a pesquisa autónoma sobre o assunto.
Simulação
Encontrar vídeos que exemplificam através de simulação uma realidade, pode ter um impacto muito positivo na compreensão dos conceitos.
Podem ser simulações de experiências perigosas de laboratório, que nunca poderiam ser implementadas em sala de aula, pelo perigo, tempo e recursos. Um filme também poderá simular, em segundos, o crescimento de uma planta/árvore, desde a semente até à maturidade.
Com as novas tecnologias de Realidade Virtual e Aumentada, os vídeos simuladores passam a ser imersivos e, por isso, começam a ganhar um interesse crescente. Não tenho dúvidas que estas novidades vão trazer inúmeras vantagens ao ensino.
Conteúdo
Este será o formato muito usado, escolher o filme sobre um determinado tema curricular ou extra-curricular. O conteúdo pode ser apresentado de forma direta, informando sobre um tema particular e orientando a sua interpretação.
Outra das abordagens do conteúdo nos filmes pode ser feita através da escolha de temas que poderão ter interpretações multidisciplinares e que possam suscitar a discussão, por não serem temas consensuais.
Atrevo-me a dizer que, em muitos países, já é uma realidade o “atrevimento” dos professores gravarem vídeos seus com a explicação de determinados conteúdos para que os alunos possam consultar em casa. Os seus alunos e muitos milhares pelo mundo inteiro, por serem, normalmente, vídeos partilhados. Pelas conversas que vou tendo com alguns colegas, continuo a achar que este ainda é um tema Tabu. A exposição da imagem pessoal não é muito bem vista.
Dá uma vista de olhos nesta introdução à História da Ciência:
Produção
A produção é, no meu entender, um dos formatos de utilização do vídeo que poderá proporcionar o desenvolvimento de muitas competências nos alunos, para além de poder ser uma grande ajuda para os professores.
Ambos poderão utilizar a produção para efeitos de documentação, através da recolha de vídeos que integrem conteúdos no âmbito da disciplina (experiências, debates, histórias, encenações, etc…).
Também pode ser uma produção através de montagem, ou seja, a partir de vídeos já existentes, ser possível aos alunos construírem algo mais completo ou mais resumido, de acordo com os objetivos. Neste caso, para além das competências para a planificação, produção e edição de vídeo, podem ser abordadas as questões relativas aos direitos de autor.
Por último e mais interessante, também podem ser criados vídeos de expressão, onde os alunos poderão explorar a criatividade para produzir com originalidade, podendo exercitar também as competências de trabalho em equipa, colaborativo.
Neste ponto é importante relembrar que o equipamento para a captura de vídeo não é um obstáculo. (Quase) Todos os alunos têm uma excelente câmara de filmar no bolso. Os smartphones, na sua maioria, até permitem a edição do filme, e com uma qualidade bastante aceitável.
A importância da Planificação!
Estas (e outras) sugestões que só poderão surtir efeito se forem bem pensadas e planificadas. A análise do que foi visto/produzido num vídeo é muito importante para aprofundar conhecimento e esclarecer dúvidas.
Parar o filme num momento estratégico para que se possa falar do assunto pode ser uma boa estratégia, ou então para sugerir que os alunos possam tentar encontrar um fim ideal para aquele filme (oralmente ou escrito).
Os alunos também poderão fazer uma análise e discussão da linguagem utilizada e do conteúdo apresentado.
Enfim, há uma infinidade de soluções que cada professor, com criatividade poderá explorar e testar.
Em nenhum destes (e outros) casos existem certezas de sucesso seguro, tudo dependerá da forma como essa informação for recebida pelos alunos. Nuns casos será excelente e noutros uma desilusão. É esta a nossa triste sina!
Como disse anteriormente, a Internet é um excelente aliado do professor no que toca à escolha e seleção dos vídeos, e para investigar bons exemplos da sua utilização em sala de aula (ou fora dela).
Na Internet também poderão encontrar diversas ferramentas que podem ajudar-nos na preparação e implementação de estratégias com utilização do vídeo.
Num dos próximos artigos apresentarei algumas ideias muito interessantes.
Fica atento! E bons filmes!
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